21 de mar. de 2015

O SONHO

Eram dois naquele estranho lugar.

Uma cadeia?

O filho e sua mãe, esperavam uma diversão de fim de semana, subiam as escadas íngremes e cansativas. Era presídio antigo e eles estavam fazendo visitação pública, somente os dois chegavam ao terceiro andar, o filho muito mais ofegante que a mãe tinha uma certa dificuldade de conversar.

Sentaram em um sofá no meio de um pátio, parecia um lugar comum, onde os presos tomavam banho sol. À direita do sofá estavam as escadas de que vieram. O cheiro de queimado ainda era forte e entre as grades, haviam prisioneiros carbonizados espremidos, no desespero de se libertar daquela tragédia, alguns esmagados entre as grades, outros com o tamanho reduzido devido a carbonização. 

Eles iniciaram uma discutição momentânea e não notaram aquele cheiro e os corpos espalhados muito menos o barulho vindo  das escadas, a mãe olhou uma última vez para o filho e parecia estar pressentindo algo. Um homem mascarado se coloca na porta apontando um fuzil para os dois, o garoto pulou para o lado do sofá se protegendo e tapando o rosto, esperando que talvez não vendo aquele homem ele também não o veria. 

Escutou duas rajadas de tiro e os gritos abafados da mãe. Ele não acreditava, devia ter tido coragem, ter protegido sua mãe. Agora estava encolhido se escondendo do assassino. O que eles teriam feito de errado? Com o rosto espremido entre as mãos e os joelhos, prendia a respiração, sua garganta doía, um choro espremido, engasgado.

Sua mãe assassinada sem motivos. 

No momento em que ele decidiu reagir e levantar o rosto encarou o mascarado, sentiu a risada do filha da puta por baixo da mascara de gás, nesses milésimos de segundo ele  escutou duas rajadas saindo do cano do fuzil. Uma delas atingindo o corpo eram como brasas entrando em seu corpo, um dos projéteis atingiu sua cabeça, ele sentiu aquele impacto e se lembrou da infância quando havia entrado numa briga e levado uma pedrada na cabeça. Porém, desta vez, muito mais eficiente e o impacto acompanhado de um barulho seco dentro de sua caixa craniana, doeu intensamente e inexplicavelmente, então aquele silêncio levou a lembrar de tudo e as lembranças passavam em sua cabeça como um filme, que ia desde a lembrança mais remota à covardia de deixar sua mãe ser morta e se esconder como rato. Lembrou do sorriso do assassino. Voltou a si quando percebeu que não conseguia respirar, seu corpo doía, estava frio ele não conseguia enxergar e estava tudo em silêncio, ele percebia somente sua consciência que persistiu em continuar. Então começou a implorar pra que acabasse logo, para que ele sumisse, que não sentisse dor, nem frio... Que não sentisse. 

Então passou. 

Seu corpo adormeceu sentiu-se pequeno, porém ocupava o mundo inteiro, pensou que talvez estivesse sonhando, aquilo fez com que seu coração batesse mais forte, tão forte que ele sentiu seu tórax se dilatando. Era uma esperança, devia se agarrar a ela, então as dores voltaram também a vontade de respirar, o ar não vinha. Era inútil então desistiu...Abrir os olhos... Olhava o teto do meu quarto, soltar o ar preso no pulmão e atirar longe o  pobre gato encima do meu peito. 

Chorava como uma criança. 

Estava vivo.

Um comentário:

Tu me diz que eu não te ignoro...